6.5.07

O GRAMADO - PARTE IV


Chegou ao supermercado, extremamente apreensiva. Já conseguia sentir o urubu apontando dentro de sua calça. O peixe kibe ou aquele peixe japonês que bóia, o Torosso. Não estava tão confiante em relação às suas cinco calcinhas, por isso dispensou a passada pelos produtos de beleza e pela tabacaria, rumou direto para a área de higiene. Tentou pegar o máximo de papel higiênico que conseguia, mas não suficiente. Pensou que devia ter pegado um carrinho, mas se ela voltasse para pegar um, talvez o urubu fosse voar de suas calças. Pegou dois sacos com oito rolos cada um e dois pacotes de frauda.
Caminhava desengonçadamente pelos corredores. As pessoas viravam os olhos para aquela mulher, que agora suava frio, tinha uma cara apreensiva, ofegava e carregava apenas materiais de limpeza anal.
Passava por todos os caixas e nenhum estava vazio. Depois do oitavo caixa, achou um com apenas um indivíduo passando o cartão.
Aliviada, soltou um peidinho aparentemente inofensivo, mas com o passar dos segundos, Raquel notou a verdadeira pasta que se formava entre sua bunda e suas cinco calcinhas. Mensurou a possibilidade de sair correndo com os produtos na mão sem pagar ou aguardar o caixa.
Ela aguardaria. Jamais tinha cometido nenhum delito. E desde quando cagar na calça era um delito? Talvez um pouco vergonhoso (extremamente vergonhoso para uma mulher daquela idade), mas uma questão de sobrevivência no seu caso.
Olhou ao redor para ver se conhecia alguém. Felizmente nenhum conhecido. Então se concentrou no caixa, que iria passar o cartão.
Nesse momento, o homem que estava pagando as contas intromete o caixa “Peraí amigo! Quanto deu mesmo? Cento e cinco? Eu só posso gastar cem. Tira o laxante e a bolacha Tostines.”. O caixa olha com desprezo “Sim senhor, tenho que chamar ajuda, pois a senha para subtrair uma compra não é de meu conhecimento, aguarde só um momento” e aciona um interruptor que faz uma lâmpada acima do caixa acender.
Raquel nessa hora se desespera, olha para os lados em busca de um caixa vazios. Nenhum. Para piorar a situação, repara que o caixa e o homem começam a farejar o ar com cara de repulsa, viram-se para ela “Algum problema com a senhora?” diz o caixa.
Agora chegou o grande momento da vida de Raquel. Essa é a hora perfeita de esquecer todos os conceitos de etiqueta, de moral, de status, de como se apresentar numa sociedade e de como fazer churrasco sem carvão. Um momento decisivo na vida dessa criatura desamparada e com uma caganeira infernal que parece não se aproximar do fim.
Raquel estufa o peito, fecha os olhos por alguns segundos, olha para os dois homens com cara de nojo a sua frente e diz convicta “Estou com caganeira. Não consigo mais agüentar. Daqui alguns minutos se eu não for embora é possível que este supermercado se transforme em um monte de merda. Preciso da ajuda e colaboração de vocês, deixem-me passar. Se for o caso, eu pago seu laxante...” nesse momento, Raquel sente o poder dessa palavra e dessa vez nem chega a peidar, já caga tudo de uma vez. Parece um gato saindo de seu estômago. Um leão rugindo e procurando comida. O fedor domina o lugar de forma uniforme. Mais pessoas olham para ela nesse momento, enquanto gotas de merda liquefeita escorrem pela sua perna. “ ...se for o caso, eu pago o laxante e as bolachas Passatempo.” “Bolacha Tostines.” Saliente o caixa. “Bolacha Tostines!” diz Raquel segurando a respiração e os movimentos peristálticos do seu cú que parece dilatado, oferecendo caminho aberto para o mar de merda. Ela abre desesperadamente o pacote de papel higiênico e limpar sua perna. A expressão de nojo é geral.
“Vá, oh boa senhora! Enferma senhora! Livre-nos desse mau cheiro insuportável.” Diz o caixa para Raquel que permanece boquiaberta sem entender direito suas palavras, ele continua “dê o fora daqui sua porca vadia! Cagona do caralho! Vaza com esse papel higiênico todo! Espero que você apodreça sua unha encravada!”.
Raquel chora aos prantos, sai correndo do supermercado. Gotículas de merda espirram a medida que Raquel corre. Uma das gotículas cai em cima de um sorvete de passas ao rum que um garoto segurava. O garoto achando que era uma passa, abocanha aquele suculento pedaço.
Rachel corre até sua casa. “Merda!” diz ela para o nada ao chegar à porta de sua casa. Ao entrar, seu olhar se volta para a sacada, agora num estado deplorável e lotada de bosta felina em todos os cantos. Vê Bibuzo em cima do parapeito, prestes a se jogar.

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