21.9.07

VÍCIOS II - Cheiradora

Anacleta era viciada em cheirar. Cheirar a própria merda.
Sempre depois que obrava, levantava a bunda do vaso sanitário e dava uma olhadinha para seu feito e, consequentemente, aspirava com vontade aquele ar fétido que exalava da privada.
Anacleta as vezes defecava em um jornal, para poder sentir melhor o aroma da merda. Cheirava durante horas e, muitas vezes, esquecia de suas responsabilidades.
Perdeu empregos, namorados, contato com familiares e até o seu cachorro devido ao seu vício. Este último possui uma história especial. Anacleta via seu cachorro cheirando a própria merda, mas sempre negava cheirar a da dona. Devido à inveja, Anacleta se desfez do pobre animalzinho.
Por conselho dos amigos, ela se internou em uma clínica psiquiátrica, e depois de dois longos anos de tratamento, hoje Anacleta se considera curada.
Deixou de gostar de cheirar apenas a própria merda e se contenta em cheirar a de qualquer um. Conseguiu um emprego no tratamento de esgoto da cidade, onde pode cheirar bosta o dia inteiro e faz bicos de desentupidora de privada.
Anacleta é o exemplo de que podemos, com muita força de vontade, conciliar o vício com algo útil em nosso dia a dia. Transformou sua fraqueza em força, seu defeito em qualidade, seu nariz em cheirador de bosta, seu vício em trabalho e seu cachorro em sabão.

18.9.07

VÍCIOS I - Heroína

Doberval era viciado em heroína (“era” porque já morreu, morrerá no decorrer desta história absolutamente fantástica). Sua preferida era a mulher maravilha. Gostava também da Xena, das meninas super poderosas, da mulher baleia, da capitã caverna, da Super-girl, da Elektra e da Potranca Alada.
Gastava todo seu dinheiro em gibis, percorria todos os sebos e bancas da cidade e enquanto não possuísse todos os gibis e periféricos de suas heroínas, Doberval não sossegava.
Muitas vezes o dinheiro de seu trabalho, que consistia em revender alguns gibis raros, não era suficiente para sustentar o seu vício. Apesar de morar na rua, Doberval visitava constantemente a casa de seus pais para roubar dinheiro, sua mãe nunca negava ajuda financeira.
Uns dias atrás, Doberval encontrava-se em um estado deplorável, soubera do lançamento do novo gibi especial da mulher maravilha e ficou eufórico para consegui-lo. Quando estava próximo de sua heroína tão querida, Doberval ficava muitas vezes agressivo, eufórico, com as pupilas dilatadas, sentia um prazer intenso e espasmos musculares.
Roubou todos os gibis que viu pela frente, saiu correndo com cerca de 1000 exemplares. Desengonçado, Doberval tropeçou no buraco e caiu de cabeça no chão.
Sem nenhuma ambulância disponível no momento, sem nenhuma vaga em nenhum hospital, devido à urgência, Doberval foi mandado para uma clínica veterinária.
Ficou na clínica durante oito meses se reabilitando, tendo consciência que seu vício na heroína maravilhosa era extremamente desnecessário e nocivo a sua saúde física e mental.
Ao sair da clínica, Doberval recaiu. Roubou mais 1000 exemplares de gibis e recaiu no mesmo buraco que já havia caído. Dessa vez nem a clínica o quis de volta. Doberval apodreceu nos becos sujos da cidade, definhando a cada dia. Com uma magreza assustadora, Doberval pereceu.