2.5.07

O GRAMADO - PARTE I




Ana e Livi estavam entediadas em cima da cama. Os cotonetes haviam acabado e suas orelhas ainda estavam sujas. "Isso é tudo culpa dessa música estúpida que você trouxe pra gente ouvir” dizia Ana para os CDs do Bach que Livi havia trazido.
Indignada com os comentários de sua amiga, Livi tira uma fita k7 da mochila. “Esse não é um CD, mas é um k7”. Ana não entende o trocadilho, faz cara de bosta e solta um peido estufado. As duas se entreolham e dão risadinhas irritantes, ainda bem que não havia mais ninguém na casa.
“O que é isso Livi? Um Mini-VHS?” pergunta Ana com cara de anta. “Não sua puta retardada, isso é um modo obsoleto de se ouvir música. Você coloca em um toca fitas e dá um play, mas isso não é música, é algo bem mais interessante.”
Livi coloca no toca fitas e dá o play, o que se sucede são sons bizarros que parecem uma gorda tentando soltar um barro no banheiro, com gemidos de dois macacos africanos transando em um coqueiro belga.
“Dizem que quem ouve essa fita, tem caganeira por sete dias seguidos” diz Livi arregalando os olhos para Ana. “Ai! Não brinca com essas coisas.” Ana pára a fita. “Imagina se eu ficasse com essa caganeira e o Juninho não olhas...” Nesse momento Ana é interrompida com o barulho da campainha.
Livi olha assustada para Ana “fazem sete dias que eu ouvi essa fita, por isso estou com a bunda maior... estou usando fraudas! Quando eu acabei de ouvir a fita aquele dia, minha campainha também tocou”.
Ana se levanta assustada e caminha até o interfone “alo?” uma voz parecida com um bezerro no cio responde “sete rolos”.


O GRAMADO



Uma semana depois, em algum lugar por aí.
Raquel entra na casa de sua irmã para o velório de sua sobrinha Ana. O cheiro de podridão no ar é desconcertante. “O que aconteceu aqui por Deus do céu!?” diz Raquel em voz alta. Um desconhecido que comia uma coxinha estragada, (e que só descobriria isso daqui a algumas horas no banheiro de algum hotel), respondeu “Ana morreu de caganeira, o andar de cima da casa é só bosta, ninguém quer limpar. Pobre Ana, morreu com o cú todo assado, o legista achou que ela era uma vagabunda de terceira”.
Raquel segura a respiração e caminha até a sua irmã “eu posso tentar limpar?”. Sua irmã solta um sorriso amarelo “se você conseguir, eu devolvo sua coleção da Moranguinho”. Raquel inicia a subida pela escada quando sua irmã a agarra pelo braço “maninha, veja se consegue descobrir alguma coisa está bem?”. Ela afirma com a cabeça e começa a subir.
O cheiro causa náuseas, Rachel cambaleia pelos degraus. Chega finalmente a um mar de bosta. As paredes, o chão, os móveis, tudo atolado de merda. Se Willy Wonka visse este cenário, talvez pensasse em chocolate.
Raquel entra no quarto de Ana, começa a se acostumar com o cheiro do ar, senta na cama da menina morta e começa a folhear álbuns de fotografias. As primeiras fotos revelam ela e sua amiga Livi, na cama, juntas tirando cera do ouvido uma da outra. As fotos que se seguem revelam uma viajem que Ana fez com alguns amigos. O que perturba Raquel nesse momento é o bizarro fato de que Ana e seus amigos, em todas as fotos, estão com cara de bunda. Com cara de bunda.
Raquel arremessa o álbum na parede, ele gruda na merda, ela se levanta “Não pode ser!!” ela treme e chora incessantemente. Caminha de costas para a porta, quando escorrega em três cocozinhos em forma de bolinha, cai de boca no estrume e desmaia.

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